Um espaço dedicado a toda beleza em forma de som e palavras...

domingo, 22 de setembro de 2013

Raiz

Há uma arvore que mora dentro de mim
Sua raiz é o que sou, em essência
E serei o mundo, ao retornar à terra mãe

Seu tronco é o que me permite ficar de pé
Passar pelos dias difíceis, e chorar quando preciso

Seus galhos são as vidas que precisei para chegar até aqui
São os punhais e os tapetes vermelhos
São os milagres, as aleluias, o sangue escorrendo
São os vagões brincalhões, que me permitem trocar de lugar, mas continuar a viagem

As folhas são tudo aquilo que vivemos
São as pessoas que passam por nossas vidas
São os sabores, são o tempo impreciso de um abraço
São coisas mágicas que entendemos por coisas mundanas
São verdades que aprendemos sem saber o nome

E lá no céu, na cauda de uma estrela que esvai o brilho pelo infinito
Quando alguém transcende sua viagem
E ultrapassa a atmosfera da sua existência para abraçar o senhor das arvores
Algumas gotas de vida se espalham pelo espaço
A semente daquele que se foi é plantada na terra que envolve nossos pés
Cresce uma árvore
Daquele que um dia foi árvore também
O pássaro semeia seus frutos pelo mundo

E ele agora então também é mundo

M.S.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Lobo Solitário

Patas e garras ao chão
Cheiro de terra
Cheiro de dor

Pela manhã, correndo na floresta
Seguindo rastros que não existem mais

Solitário no ofício de ser fera
Ferir sem sobrar nada que pedir em troca

Pois a minha sina me faz tocar o solo
O meu uivo é hino, é grade
A vaidade é uma ilusão
E no frio, a natureza me faz miragem

Pois, posto que a beleza da selva reside em tudo aquilo que há de ser
Imutável, sólido, montanha e mar
Um lobo é só um lobo
Nasceu fera, mas chora por dentro
Coisas que não sabe sentir
Pois é só, e é só um lobo

M.S.

Minhas folhas

Me deito no chão sob as folhas secas
E ao me levantar, sei um pouco mais sobre mim mesmo

M.S.

Minha floresta

Na floresta, sozinho
No profundo, escuro

Wooojhn, Tssssssch ....
Ventos sopram nas folhas

Luz do luar, só dos olhos
Uma gota de sí mesmo
O calor de um sonho queimando

M.S.


Quem?

As relações humanas costumam me assustar com frequência
Pois ambos os lados acabam marcados de alguma forma
A as marcas são puro aço, puro aço, aço

E quem há de saber
Exatamente, lá no fundo
Como se sente cada ser?
Quem há de se fazer sentir o que o outro sente?



Vida moderna

Às vezes tudo pára e, por um milésimo
eu sinto a vida novamente, como quando eu era criança
O mundo se enche de um frescor,
e há alegria apenas em se olhar para fora
e ver o mundo encantado, cheio de possibilidades

E então eu me lembro que a vida não costumava ser assim,
que antes eu podia correr e encontrar exatamente o que ia buscar
Viver de imediato aquilo que sabia ser possível, dentro de mim
Sentindo cada pedaço do mundo por inteiro, e de verdade
O verde como verde, o azul como azul
O frio da água e o calor da cama

E hoje, que acontece?
De tudo, sobram só réstias de luz
E eu, ainda jovem, olho para vida com o cansaço de um velho

O que sobra em mim, da tal jovialidade,
é a esperança de um salto,
de uma revolta completa,
de um "dar se conta" que,
- a parte mais derrotada de mim sussurra -
cada dia parece mais com uma fantasia.

Quando foi que concordamos com essa condenação?
Como foi que nos deixamos convencer por essa vida-de-morte?
Por que tanta energia desperdiçada, tanta inutilidade?

Se de uma vida de futilidades
só me resta o fim resignado,
que pelo menos dure a consciência
de que todo esse circo do qual sou atração
está destinado a falência.

C.W.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Passarada

Olhei
para o além-mar
Levantei
com o canto arrastado
e manso
do dia a chegar

Sonhei
como quem quer voar
E voei
como quem dá um salto
e no alto
encontra o lar

Passareio de ave
Filha do sol
Cria do ar

Pelo alto se move
e se recolhe
nos braços das matas

Bando em passarada
Azul sua estrada
De vento e de graça

C.W.