Um espaço dedicado a toda beleza em forma de som e palavras...

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Nosso lugar


Toda essa distância
Espero que ela me faça
Abrir mão de tudo que é tranca
Fazer nascer em mim, asas

Pois teu jeito namora o meu céu
E isso me inspira a voar

Esse sentimento
Coração que não disfarça
Mãos que se entrelaçam de longe
Dois caminhos que não podem se separar

Pois teu jeito namora o meu céu
E isso me inspira a voar

Cada palavra que canto
No escuro do meu quarto
Toda doce lembrança
Quantos pontos do meu centro até teu traço?

Qual é a forma que você gosta de ver, nas nuvens?
Minha menina, meu amor, isso é algo que podemos chamar de nosso lugar

Saiba meu amor
Que para onde você for
Para qualquer lugar do mundo que meu coração me levar
Teremos sempre isso para chamar de nosso lugar

Apenas se prepare
Se prepare por dentro
Pois aqui vem vindo uma luz
Que brilha por mim e por você
E ela é tão, tão forte
Que vai trazer calor para os nossos corações
Vai amansar nossos corações

E quando essa luz chegar
Você vai acordar no meio da madrugada e vai saber
Eu vou sorrir
Vamos nos cruzar numa rua qualquer
Um abraço

Corações que sorriem e vidas que se olham
Voaremos juntos

Pois teu jeito namora o meu céu
E isso me inspira a voar


Você nunca estará sozinha, acredite.

domingo, 24 de novembro de 2013

Menina

Uma menina caminhava pela estrada.
Flores cresciam ao vê-la passar, tapetes de folhas se formavam sob seus pés.O vento beijava seus cabelos e assoviava canções em seus ouvidos, e ela dançava. Uma leve chuva de verão flutuava sobre ela, e ela chovia alegria e vida, além dos seus trejeitos de ser.

Em cada passo, um compasso. Seu sorriso, um abrigo para as noites de frio.

Em cada dia, magia. Sua beleza, inspiração eterna para a poesia.

Em cada árvore, fruta madura. A cada mordida, a descoberta de uma nova curta para as antigas feridas.

Em cada ser vivo, encanto. Prazer com seu doce e intenso canto.

Em cada versos dos seus contos, verdade. Metáfora simples da realidade.





terça-feira, 5 de novembro de 2013

O poeta pescador

O poeta tem de andar pelas ruas da cidade Conhecer nova gente Encenar e ser repente Dum cordel febril, sentir frio sem a vergonha de se acolchoar
Das palavras ser amigo e fisgar peixe motivo Ou beber água do mar Um poeta tem de andar pelas ruas da poesia Se despir de vaidade Amar e sentir saudade Queimar seu brasil Amor que não se rende ou se faz dependente Ponteando a realidade Vai fisgar peixe ferido Vai pescar peixe verdade Meu poeta tende a poetizar tuas entranhas Tende a colorir teu gris De arco iris E num céu de ti em mim Meu poeta pescador Vai pescar Peixe pra se enamorar

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Cala de frente a minha poesia


Acorda do meu lado amanhã
Me faz um chá, eu te faço carinho
Me ajuda a levantar, pra depois me derrubar no chão
Entrelaçamos as mãos
A tatear o mesmo caminho

Mergulha, amor, nua e sorridente
Arde a tua cor pela minha tela fria
Faz do meu verso, quente
Da minha boca, sua
E da minha promiscuidade, heresia

Cala de frente a minha poesia


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Oceanos gêmeos

São duas quedas da mesma fonte
São duas pedras
Que rolam sob o tempo, se chocam e se moldam
De vento respiram e de vida se fazem tão vivas

Dois rios perenes sob o mesmo céu
São olhos que se olham a todo instante
Passos que se encontram perto e distante
Poemas pra lembrar que somos tanto em tão pouco

São contos da floresta, leões ali da selva do jardim
São faces da pureza, te cuido e você cuida de mim
São olhos que se olham a todo instante
Passos que se encontram perto e distante
Poemas pra lembrar que somos tanto em tão pouco

Almas de mar, oceanos gêmeos
Penso que há conchas nos mares de ti, que já me pertenceram
E algumas estrelas cá do meu mar foram moldadas por você
Sabemos o que são formas, fendas, lendas, peixes
E se trocarmos de olhar
No mar ao entardecer
Saberão nossos olhos de quem são?


M.S., para meus queridos priminhos gêmeos, Lucas e Thiago. Que dominem os próprios oceanos.

domingo, 13 de outubro de 2013

Soltar-se...

Há tantas maneiras únicas de criar, tantas formas lindas a experimentar. Há tantas nuances esperando por nós, se nós apenas deixamos com que o natural se expresse como o natural, se nós permitimos que aquilo que é seja como é. Só que o mundo nos ensina que temos que correr e forçar todos os processos. Que temos que ter controle sobre o que fazemos, que devemos traçar estratégias e metas e dar cada passo sob medida. Ainda mais, o mundo nos diz que devemos respeito à tradição, que temos que aprender o "certo". Mas, de que adianta confinar a vida em uma garrafa? De que adianta ensinar uma criança a desenhar? O belo se faz por si próprio - e acontece em cada ser humano como um reflexo puro de si mesmo. É só quando queremos alterar nosso destino, quando negamos aquilo que mais naturalmente podemos ser, que bloqueamos e restringimos a criatividade. Cada um está sempre apto a fazer o que esteve sempre apto a fazer! Basta fazer - fazer aquilo que se quer fazer, e fazer por inteiro, sem pressa e sem controle. Não deveríamos perder um minuto de tempo sequer julgando aquilo que criamos - basta que o façamos com a alma descansada e presença. E depois, é deixar com que o infinito decida e nos mostre, por entre seus sussurros misteriosos, o propósito de nossa arte.


sábado, 12 de outubro de 2013

Ao distinto poeta

Ao distinto poeta cabe olhar o mundo, assim como olhar a si próprio.
Cabe imergir-se em questionamentos sobre a vida e a sociedade, mas cabe também recriar realidades e sensações, e cobiçar estados, intrínsecos ou não à sua existência.
Cabe alimentar seu âmago criativo à deriva do que se dispõe ao alcance da sua percepção, mas cabe também a fuga, vulgar e visceral, da própria fera linguagens adentro, na loucura ou abstração que aprouver ao chamado da floresta de si mesmo. Desse vale porém, há uma sorte das mais exuberantes às mais perigosas introspecções.
Ao poeta cabe tão bem a sinceridade e a mentira, tal que um indivíduo ao confrontar o mundo do poeta, vai fazê-lo com todos os filtros sobre verdade e mentira que já possui, e dessa forma a si moldar realidades paralelas.
Ao poeta cabe a geografia dos discursos, o calibre das ideias e a armadilha das ideologias, dificilmente saindo este ileso de cada profundo mergulho insalivar das coisas que se fazem entender sem serem ditas.
Cabe a bipolaridade dos acontecimentos, o partidarismo das dúvidas, o amargo da falsa consciência e o ferro das próprias ferraduras.
Ao poeta cabe a solidão extrema, ainda que mascarada pela consonância distante de todos os leitores com sua poesia, mesmo quando essa é sagaz na missão de influir e formalizar processos pensantes.
Cabe então ao poeta, se atar tão elementar e insuportavelmente à sua poesia, a ponto de correr o risco de não saber, a qualquer instante, de nada daquilo que escreve, pensa ou fala, ou então ser surrado pelas suas próprias palavras.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Palavras quaisquer sobre amor demais, tempo, linguagens e velharias sem muito uso prático


Minha amada! Meu amor em solidez, meu caminho, destino, porto e barco para as terras além mar do sublime existir! Meu espelho, minha musa e minha sina, meu destino em hino eterno da felicidade!
Quereis você realmente matar-me, e ao homem que se resignaste conceder tão profundo mergulho nas ideias que me assolam e me afirmam, apenas por vê-la perdida em meus lençois, e assim inibir-me com medo que o rouxinol cante e em pranto  e que o doce canto da madrugada se esvaia por entre teus lábios, teu respiro e o som do silêncio?
Seria eu realmente um joguete desse destino, um refém algoz dos olhos da esfinge do tempo, um Ulisses de Homero, preso ao manto do mar de me perder em você e me afogar no teu corpo, para morrer na solidão do tempo eterno sem ti?
Morrer afogado então seria melhor, se ao visitar os salões do senhor das águas, fortificado fosse pelo canto da mais doce sereia de ambas as dimensões e alegorias que o ser criador foi capaz de traquinar.
Me entregar ao pecado seria doce, seria sublime, seria dança e seria rito selvagem, seria e tão é mais que inócuas palavras fúteis de um mero menestrel, de um arlequim sem pierrô e colombina, de uma cotovia sem amores para acordar, de olhos sem cores a quem sorrir.
Reinventaria a poesia lirica e repudiaria Shakespeare se ambos pudessem domar os caminhos da história somente para que hoje eu reinasse, não nos campos da poesia, mas apenas em tua cama que seria nosso leito e alimento eterno.
Meus heróis então morreriam em paz, conquistando a compreensão de sentido da vida no seu próprio ser, e minha comédia também morreria em virtude do romance real, tintado em sangue de minhas veias, grafado em giros pelo teu corpo. Pergaminho seria a vida em metáfora, nossas existências a areia que seca a tinta e perpetua o ato escrito, e o sopro da natureza levaria essa areia então novamente a terra de onde vieste, o pergaminho ás traças e as palavras soberanas reinariam no mundo das ideias de Platão.
Sócrates seria incapaz de questionar nosso haver, e Alexandre seria pequeno diante das nossas muralhas de portões escancarados. Marlowe sem dúvida pintaria os Versos Brancos só para ver William sorrir, e Heitor sobreviveria para ver Astíanax crescer.

Eu caminharia pelas ruas de Curitiba com a certeza da loucura, com o doce amor nos lábios a sorrir para o português sacana da padaria e para o malabarista no sinal.
Cruzaria o largo e sentaria nos bancos ao lado do Babão.
Olharia a menina de vestido cacau caju laranja de bicicleta, a cachorro sentado á porta da igreja, os tantos e inimagináveis artistas anônimos saindo do Cine Luz, com o mais feliz que a vida pode oferecer. Janelas abertas, crianças paradas e abobadas vendo a geada de manhãzinha,e depois correndo pelo feira e ouvindo o chorinho da roda do meio dia.  Lembraria do cheiro que lembra a lembrança da minha infância e a gata que um dia bebia um chope escuro e ia sumindo pelas ruas, para nunca mais voltar.
Pegaria esse caderno velho, essa caneta quase vazia, essa mão cansada e essa literatura barata e não precisaria escrever mais nada. E nem você.




ps. foda-se para a ortografia

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Cansaço,
e só cansaço

Todas as teclas estão fundas
Batidas
Eu as vejo, afundadas
Eu as vejo e não resta nenhuma
Não em meu teclado

Então cansaço
E a espera de um milagre
nas últimas batidas do relógio
Nos últimos suspiros que restam
No pouco que me sobra



segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Epopéia do interior

Vai-te de casa tão cedo
Arranca-te esse amargo do peito
Pois de amargo já teu âmago está cheio

Na esquina o bom cachorro vai
Latir pra te alcançar o som
Verdade vai te acompanhar
Na pátria aquele velho dom de acreditar na invenção
Reinventar as veredas pra se ter chão

Na árvore a beira do rio
Onde deixou escrito o teu amor
Lava nas pedras de correr no leito dos teus ancestrais
As dores que são tão só e suas
As dores que são somente suas

Lembrança é sempre um bom lugar
Saudade é lança de ferrão
No peito o santo pra guiar
De pranto a fé de benção, vai com deus
Segue feito um brado em epopéia de Camões
Pra recriar o herói em ti
Agora tens o dom do ventos
Vai voar
Vai-te tão cedo.

M.S., para meu querido pai.

domingo, 22 de setembro de 2013

Raiz

Há uma arvore que mora dentro de mim
Sua raiz é o que sou, em essência
E serei o mundo, ao retornar à terra mãe

Seu tronco é o que me permite ficar de pé
Passar pelos dias difíceis, e chorar quando preciso

Seus galhos são as vidas que precisei para chegar até aqui
São os punhais e os tapetes vermelhos
São os milagres, as aleluias, o sangue escorrendo
São os vagões brincalhões, que me permitem trocar de lugar, mas continuar a viagem

As folhas são tudo aquilo que vivemos
São as pessoas que passam por nossas vidas
São os sabores, são o tempo impreciso de um abraço
São coisas mágicas que entendemos por coisas mundanas
São verdades que aprendemos sem saber o nome

E lá no céu, na cauda de uma estrela que esvai o brilho pelo infinito
Quando alguém transcende sua viagem
E ultrapassa a atmosfera da sua existência para abraçar o senhor das arvores
Algumas gotas de vida se espalham pelo espaço
A semente daquele que se foi é plantada na terra que envolve nossos pés
Cresce uma árvore
Daquele que um dia foi árvore também
O pássaro semeia seus frutos pelo mundo

E ele agora então também é mundo

M.S.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Lobo Solitário

Patas e garras ao chão
Cheiro de terra
Cheiro de dor

Pela manhã, correndo na floresta
Seguindo rastros que não existem mais

Solitário no ofício de ser fera
Ferir sem sobrar nada que pedir em troca

Pois a minha sina me faz tocar o solo
O meu uivo é hino, é grade
A vaidade é uma ilusão
E no frio, a natureza me faz miragem

Pois, posto que a beleza da selva reside em tudo aquilo que há de ser
Imutável, sólido, montanha e mar
Um lobo é só um lobo
Nasceu fera, mas chora por dentro
Coisas que não sabe sentir
Pois é só, e é só um lobo

M.S.

Minhas folhas

Me deito no chão sob as folhas secas
E ao me levantar, sei um pouco mais sobre mim mesmo

M.S.

Minha floresta

Na floresta, sozinho
No profundo, escuro

Wooojhn, Tssssssch ....
Ventos sopram nas folhas

Luz do luar, só dos olhos
Uma gota de sí mesmo
O calor de um sonho queimando

M.S.


Quem?

As relações humanas costumam me assustar com frequência
Pois ambos os lados acabam marcados de alguma forma
A as marcas são puro aço, puro aço, aço

E quem há de saber
Exatamente, lá no fundo
Como se sente cada ser?
Quem há de se fazer sentir o que o outro sente?



Vida moderna

Às vezes tudo pára e, por um milésimo
eu sinto a vida novamente, como quando eu era criança
O mundo se enche de um frescor,
e há alegria apenas em se olhar para fora
e ver o mundo encantado, cheio de possibilidades

E então eu me lembro que a vida não costumava ser assim,
que antes eu podia correr e encontrar exatamente o que ia buscar
Viver de imediato aquilo que sabia ser possível, dentro de mim
Sentindo cada pedaço do mundo por inteiro, e de verdade
O verde como verde, o azul como azul
O frio da água e o calor da cama

E hoje, que acontece?
De tudo, sobram só réstias de luz
E eu, ainda jovem, olho para vida com o cansaço de um velho

O que sobra em mim, da tal jovialidade,
é a esperança de um salto,
de uma revolta completa,
de um "dar se conta" que,
- a parte mais derrotada de mim sussurra -
cada dia parece mais com uma fantasia.

Quando foi que concordamos com essa condenação?
Como foi que nos deixamos convencer por essa vida-de-morte?
Por que tanta energia desperdiçada, tanta inutilidade?

Se de uma vida de futilidades
só me resta o fim resignado,
que pelo menos dure a consciência
de que todo esse circo do qual sou atração
está destinado a falência.

C.W.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Passarada

Olhei
para o além-mar
Levantei
com o canto arrastado
e manso
do dia a chegar

Sonhei
como quem quer voar
E voei
como quem dá um salto
e no alto
encontra o lar

Passareio de ave
Filha do sol
Cria do ar

Pelo alto se move
e se recolhe
nos braços das matas

Bando em passarada
Azul sua estrada
De vento e de graça

C.W.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Barquinho

Barquinho brincando de mar
Na banheira não vai se afogar

Barquinho brincando de
mar
Na lagoa não vai
se afogar

Barquinho brincando de
mar
Na bacia
não
vai
se afogar



__/\__

domingo, 18 de agosto de 2013

Dilema da criação

Você pode olhar para uma certa condição
e nela apontar tudo o que não deveria ser
e tudo o que deveria ser mudado
para poder chegar ao
...certo


ou

Você pode enxergar por que algo é como é
e então dar um livre passo para, enfim
deixar que a mesma condição se torne
aquilo que sempre esteve destinada a
...ser.

C.W.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Cão versa

Um deles latiu:

Boa noite pra você!
Que um carrochorro carregue você pra terra dos sonhos,
e que os cachorrovalos te levem são e salvo pra mais um dia de trabalho... do cão.

E o outro respondeu:

Sim, vou sonhar com cachorrovalos, ou cãovalos, ou carrochorros.

O primeiro adicionou:

Cachorromóveis.

Até que o outro sugeriu:

Pode ser: rolerchorros.

Aquele rebateu:

Ou... autochorros.

E este concluiu:

Boa noite então, man. Tenha bons cachorrosonhos.

Aquele agradeceu e enfim aconselhou:

Certo. E acorde no cachorrorário, se não vai ter bronCÃO.

E este relembrou:

E não faça mais cachorrolistas, esqueça os cãolendários, os DOGmas, e cante Cãoções de AU(AU)mor.

Impressionado, o primeiro se calou. Prevendo o fim, o segundo anunciou:

Fui, estou cãosado.

O primeiro ameaçou:

Vou salvar isto.

Fazendo o segundo rosnar:

NOOOOOOOOOOOO!!!
Seu cãonália!!!!

Entredentes, deu seu último resmungo:

Fui, tchAU.


E enfim ambos foram dormir com os cãojos.


Latido alegremente pelos vira-latas:
C.W. (Chihuahua misturado com Whippet) e M.S. (Maltês misturado com Schnauzer)


Vagando

Nada mais do que eu diga, nada mais do que eu faça
Nada mais do que eu pense, nada que eu planeje
Nada do que eu sei e nada do que busco

Nada mais do que tenho e nada mais do que anseio
Nada mais do que antes e nada mais do que agora
Nada mais do que nada, e tudo se esgota

E como em um frasco perdido no mar,
minha alma acesa é soprada pra lá e pra cá
contida em redomas cristalinas, observa
observa e vê tudo virar nada, nada no mar

Nenhum sentido, nenhuma solução
Nenhum plano, nenhuma investida
Mas o lento, lento, lento acordar
Estaria o Grande Autor atendendo secretamente este pobre coração?
Estaria sua Vontade guiando sutilmente esse filete de vida para a liberdade?
Ou estaria a pobre alma do frasco navegante
fadada a encontrar a borda ilusória de uma terra plana
e em um precipício infinito abraçar seu fim?

Liberdade, em vida?
Liberdade, em morte?

Enquanto isso, sonha a chama acesa no frasco inundado de azul
queimar tão intensamente a ponto de fazer céu e mar
ressoarem em seu próprio tom

C.W. 

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

O caminho do céu

Não há maneira de evitar o que está por vir
O Infinito está reservado para nós
Tome esta oportunidade por tudo o que ela representa
E abra-se para tudo o que fizer de ti a vida

Só então você saberá, no seu íntimo
Que está caminhando o caminho dos céus
E que não há nada além disso
Nada além disso

C.W.

domingo, 28 de julho de 2013

Coisas que sinto

Pode ser que eu esteja errado
Mas quando abro os olhos de manhã, sinto que o brilho do meu dia é tão mais claro, iluminado pelos sonhos de você, reais e tão puros
Sonhos onde te leio em livros
Onde encosto minhas mãos nas páginas, e as palavras se desprendem do papel e penetram em minha pele
Transbordam os lagos de poesia que nasceram de você
Curam as feridas de se calar por algo que não pode ser dito com palavras
Trazem força e crença às minhas sarjetas, aos meus cantos não tão bem frequentados

Pode ser que eu esteja errado
Mas sinto que o tempo, a cada dia, me ensina que respirar é preciso
E, cansado de tantas mentiras, a cada inspiração procuro a verdade que me habita
E é quanto eu te encontro novamente
Sorriso, carinhos, calor
Não há razões, convicções demais, dúvidas eternas, erros
É só um bem querer, mãos entrelaçadas e vidas que se olham

Pode ser que eu esteja errado
mas tenho a impressão de que ocupamos oceanos gêmeos
Pertencemos às mesmas águas
Penso que há conchas nos mares de ti que já me pertenceram
E que algumas estrelas de meu mar foram moldadas por você
Conhecemos o que são formas, fendas, peixes, lendas e barcos
E  se teus olhos, ao entardecer, olharem a superfície de águas cristalinas dos nossos oceanos, saberão eles onde exatamente se tocam céu e mar?

Pode ser que eu esteja tão errado quanto o de costume
Mas pode ser que eu esteja tão certo quanto acredito
Brinco de esconde no campo das incertezas
Nítido e abstrato, continua queimando
Tateando o que não se pode ver e refazendo o que se extingue
Sempre tão errado
Sempre tão certo
Sempre tão sentido

M.S.
com a ajuda do disco "X&Y", Coldplay.

Tudo de ti em mim

De tudo que é verdade em mim
O verde de você, vem de vento, vem
Veraneio tem

De tudo que é certeza em mim
Teus rios vêm me dizer, silhuetas, trem
Poesias, bem

E tudo que em ti me cala, é porque fala tanto
Tudo que eu quero ouvir, sei que vem de você
E tudo que em ti me cala é porque fala tanto
Tudo de ti em mim

Teus passos, tuas ondas
Teus mares, recomeço
Pra tudo que é sertão eu me arrefeço

Teus traços, tuas pontas
Me enlaço em teus cabelos
Pra tudo que é inverno eu me aqueço

E tudo que em ti me cala, é porque fala tanto
Tudo que eu quero ouvir, sei que vem de você
E tudo que em ti me cala é porque fala tanto
Tudo de ti em mim

terça-feira, 23 de julho de 2013

Para onde vamos?

Para onde vamos, amor, quando um caminho de pedra termina num campo aberto sem trilhas?
Quando perdemos os olhos de gavião e viramos caça?
Para onde vão os sonhos quando os realizamos?
Para onde vai o amor, quando temos medo de abraça-lo?
Para onde vai o medo das palavras que me calam, quando grito?

Para onde vai o sangue que escorre do meu peito nu quando rasgo-o com minhas garras cruas, só pra te submergir no meu centro e te confrontar, real, com a minha fantasia?

Para onde vão as tartarugas quando o oceano estende seu chamado e abre as portas dos salões submersos, onde habitam sereias que tocam harpas e cantam na língua dos pássaros?

Para onde vamos, amor, quando a verdade que flui nos nossos olhos, ossos, poços, rostos, poros, nos abandona em busca de suas próprias verdades?
Para onde vai a pressa quando correr te machuca?
Para onde vai a certeza quando um milagre acontece?

Para onde vamos, amor, seguindo pegadas com formas que não correspondem aos nossos pés?
Para onde vai o que é mecânico? Os robôs, os parafusos, o lixo e o luxo, a falsa magia e o circo dos horrores, o que decompõe, depõe, dispõe, deserta, ecoa, lustra, acoberta, carapuça, peça?
Para onde vai o aço dos nossos atos obscenos, o ferro das nossas ferraduras, a cola do adesivo de nossas vidas?

Para onde vamos, amor, quando sentirmos não pertencer mais a este lugar?
Para onde vai o pó, o que é pequeno, o que murcha, broxa, contradiz, por um triz, triste e jamais feliz?
Para onde vai quem perde, quem é sozinho, quem é senhor das chamas de si, das cinzas de lembranças coloridas, das bençãos cuspidas, quem é vapor, veneno, vento negro, vociferante de palavras fúteis?

Para onde vamos, amor, quando chegar o dia? Aonde vamos daqui?
Para onde vão nossas canções que morrem no ar, minhas mãos que tremem ao te tocar?
Para onde vão as palavras não e sim, o teu céu em mim e meu inferno que em ti reside, a simetria em duas coisas diferentes, as armadilhas de um tempo que não existe?

Tempo, tento, tato, tenho, tudo bem.
Para onde vamos, não há lugar para tantas perguntas. Escrevo esse réquiem em palavras que vamos nos esquecer, mas carrego pra sempre a memória em melodia das coisas que acredito.
Te espero lá fora.
Pra onde vamos?


M.S.
com a ajuda do disco "The Temper Trap", The Temper Trap.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Céu de ti em mim

Te vejo dançando num céu de ti em mim
e você flutua como uma nuvem.
A brincadeira é sempre a mesma, tentar descobrir tua forma
Tentar ligar os pontos, pontas de você
Traço dos teus pés, teus passos
Tentar te tocar

Você flutua em movimentos circulares
Tornado, marcada, feroz
Teus braços tragam o mundo
E os dedos apontam estrelas que talvez não existam mais
Pois de tempo, não sei do teu tempo
Gostaria de tocá-la, seguir tua silhueta, me perder
Amansar o medo e a dor da minha criatura

Você flutua, e eu te respiro
Inspiro profundo, e te solto contra a minha vontade, com medo que o ar que tu teces se torne mar a me afogar
Pois em cada gota d'água há um segredo, e tenho medo das coisas que não conheço

Te vejo dançando no escuro
Você sorri
Você flutua
A escuridão ao teu redor se rende, absorta em cores que nunca conheceu
Pois você inventa cores sem ser chamada
Inventa tons, tímida, tão doce
Se há escuro em ti, é aquele escuro dos olhos se fechando antes de dormir
Que pode se transformar em qualquer coisa, mas que também pode se render ao sono quando lhe aprouver.

Te vejo riscando um espelho d'água
Trespassando sonhos profundos, se esticando para alcançar uma superfície
Céu ou chão? Acho que não importa
Tens uma solidez que não pede explicação
Teu movimento só poderia ser descrito por palavras que não existem
Teus pés não conhecem a prisão da gravidade

Te vejo dançando no meu céu
De cores que não sei nomear
De segredos que tenho medo
De estrelas que nem sei se existem
De tempos que não sei contar
De formas que gostam de brincar
Um céu de ti e mim


M.S.
com a ajuda do disco 'For Emma, Forever Ago', Bon Iver.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Janela do tempo

Para os dias de frio e de chuva, uma bebida quente. Para os dias amargos e tristes, amor de mãe. Para os dias de insonia, estrelas. Para os dias de dor, renovar. Para os dias felizes, uma boa memória. Para os dias de domingo, cinema francês. Para os dias loucos, um pouco de lucidez. Para os dias de infância, leite ninho com coca-cola. Para os dias escuros, cama à dois. Para dias sensíveis, doces. Para os dias de tédio, paixões, para todos os dias amores. Para os dias tranquilos, literatura. Para os dias promíscuos, um pouco de pinga pura. Para os dias quentes, rede, sede, sorvete. Para os dias de sol, flores. Para os dias de sombra, água fresca. Para os dias frescos, paciência. Para os dias de sorte, magia. Para os dias que vivo, se doar a vida. Para os dias duros, banho quente. Para os velhos dias, jeans e camiseta. Para o dia D, coragem. Para os dias épicos, alma. Para um dia deserto, miragens. Para o dia de seu nome, bolo. Para um dia que demore, tempo. Para um dia cinza, cores. Para todos os dias, amores.

M.S.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

El viento de verano

No deseo me quedar el año todo
Vengo de ningún lugar
Aún que solo sea
Siento sus besos sin ni preguntar

Mis alas, para llegar a la tuya ventana
Mis ojos, para mirarte todas las mañanas
En los árboles, me quedo esperando tuya primavera
Descanso en el silencio que me gobierna

Soy tranquilo, soy verano, me llamo viento

Hola, me llamo viento
En el verano me caliento
Mis pasos son inaudibles
Pero siento cada sonrisa, son brisas
Para llevar mi amor hasta tus sentidos, sonidos, un abrigo

Soy tranquilo, soy verano, me llamo viento

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Sons e palavras

As palavras me permitem ser tudo aquilo que não posso viver
Os sons transfiguram a fantasia em realidade

Palavras, das quais me alimento e sou devorado
E sons, pra deixar a dor do silêncio ir embora

Palavras com a esperança de que sejam entendidas por alguém, mesmo longe, mesmo impossível
Sons, pra que meu pranto e meu riso chovam e fecundem tua terra nua

Palavras que escrevo para aquecer o teu frio
Sons que esparramo para afagar a distância
Palavras que escrevo para preencher o meu vazio
Silêncio para procurar as palavras certas

Palavras, que não me deixam esquecer, mas que tornam a compreensão menos dolorida
E o silêncio, pra pensar, e pensar

Palavras, para agredir a todos, a ninguém
Sons, que me trituram e me servem numa bandeja

Palavras, no final das contas, porque preciso delas
E os sons, porque não posso fugir.

M.S.

Shortage

Loving
Loving
Loving
Loving

And not making
Not making
Not making
Not making

Not crossing
not crossing
not crossing
not crossing

the line.

C.W.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Pra ser leve

Palavra certa
na hora boa
faz do sujeito
gente da gente

Gesto sincero
pra gente que é gente
faz do mundo (que é mundo)
belo - e que belo!

Riso é das entranhas
E desamarra
desenrola
desentope...
É dos homens
como o uivar é dos lobos
como o grunhir é das feras

Abraço apertado
pra amigo bom
faz de dois corações
uma só coisa

A importância é da mente
E amarra
Enrola
Entope...
É dos homens, e só daqueles
que querem uivar como lobos
e grunhir feito feras

C.W.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Não procuro perfeição

Fórmica, lógica, poética
E outras constantes do meu ser
Precisam de você

Orbita, habitat, genética
E outras tangentes do meu ser
Se justificam em você

Ótica, porque toda a minha estética é a tua
Prática, praticamente não precisa
Pois não procuro perfeição

Fórmula, mágica, magnética
E outros segredos do teu ser
Dos quais preciso conhecer

Ótima, enfática, perplexa
E outros trejeitos do teu ser
Os quais, vitais pro meu haver

Tácita, o teu silêncio subintende o meu sorriso
Tônica, os meus ponteiros mostram sempre o teu sentido
Láctea, as minhas veias são as vias da tua rua
Prática?
Praticamente não precisa, pois não procuro perfeição

M.S.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Em Terra Assim

Ele acertou seu passo e depois disse adeus
Ele cruzou o espaço até fugir do mundo
Será que se perdeu
e desapareceu de nós
estamos sós
sem sua visão?

Ele mirou em setas antes esquecidas
E se guiou pelas canções já não tocadas
Ele ignora o que o silêncio proibiu
Que é que terá visto nessa vastidão
que lhe valeu tamanho adeus
e tanta fé

Será que ele sofre?
Será que voa?

Será que devo também partir sem hesitar
Não mais que meu próprio calor pra me guiar

Em terras de pouca paz
Onde o canto já se esvaiu
O cantar daqueles
que do coração abriram seu melhor

Nesta terra eu vou sem hesitar
Para o calor dos braços de quem me abraçar

Nos tempos de lutas
entre homens e seus papéis
Onde o canto se conhece
Pelos que voz não tem
Em terra assim
Em tempo assim

Ele seguiu sem hesitar
Não mais que seu próprio calor pra lhe guiar

C.W.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Sonhos não envelhecem

Nas páginas de um livro de história
Em trilhos de trem
Eu vou viver, por inteiro

Na dura e amarga memória
Na morte de um
Eu vou viver, por inteiro

Nos sonhos que não envelhecem
No estouro, tão pronto estilhaço
Na força do medo que cresce
Teus cabelos que desembaraço

Pela ferrugem e pela estrela
Pela estrada eu vou viver
Pela ponta da espada, eu vou viver, por inteiro

Nas ruas e vias, na voz dos desesperados
Eu vou viver por inteiro
Nos cantos de guerra em canções esquecidas
Eu vou viver por inteiro

Nos lábios que cantam a prece
Num doce e instante abraço
Às vistas de qualquer milagre
Nos santos da fé que refaço

Pela ferrugem e pela estrela
Pela estrada eu vou viver
Pela ponta da espada, eu vou viver, por inteiro

M.S.

domingo, 7 de julho de 2013

O mestre das águas

Um verde-escuro, cor de breu
Travessa na areia, quebrando a barra
As ondas beijando o mestre das águas


Em coração de mar, amor é travessia
Lava no sal a ferida de sangue
Milagre pra gente desconhecida


Face de pedra, de faca e ferrugem
Entalhando no olhar, as montanhas que chegam no mar
Todo dia, de vento em vida
Fazer o amor crescer
Fazer o amor vencer


Olhar de quem sonha acordado
Navega em dois leitos, saveiro
Rio doce e mar salgado
Estrada de água e caminho de aço
Se eu choro hoje, é pelo teu mar
Pelas palmas da tua mão em prece
Fazer o amor crescer
Fazer o amor vencer

M.S.

sábado, 6 de julho de 2013

Amizades

Balões no céu
Luzes noturnas
Jovens olhares
Seres alados
De outro planeta
Nossas promessas

Risos e falas
Além da conta
Além do horário
Tudo está certo
Derrotados que somos
Pelo brilho dos sonhos

Vista pra rua
Carro amigável
Foge do frio
Foge do tédio
Risos e falas
Tudo está bem

Encontros são
Como a vida sutil
Que se passa
Entre um pensamento
e outro
E outro dentro
de um
e outro
e do outro.

Assim.

C.W.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Para crescer (To Grow, Till Tall)

É uma árvore
Verde, mas tem várias cores junto. Vários tons, muitas texturas
Ela vai até o céu, até o infinito
Abriga os mais belos e coloridos pássaros
E eles todos falam a língua dos anjos e cantam na língua do amor
E eles estão sempre voando, e rindo, e sorrindo
São mesmo brincalhões

É uma árvore que tem veios, onde corre a verdade pura
Que vem da terra, e pra terra retorna
Nas suas raízes, que percorrem o mundo
Nascem respostas para as perguntas que ainda não foram feitas
E cachoeiras naturais se formam entre seus galhos

As crianças comem seus frutos, sem lavar nem nada
Em alguns galhos, existem folhas tão grandes, que nos abrigam, quando temos sono
Nossas mãos podem encostar no seu tronco âmbar
E as raízes do nosso coração encontram refúgio
A tempestade da nossa mente se acalma
Nossos ventos se tornam mais brandos
Nosso som soa novamente, e como é lindo

Ao inspirar o ar puro, sentimos a vida
E os olhos se purificam
E temos a chance de amar em paz, pois é um amor muito grande
Por todas as coisas que crescem, por todo o alimento
Pelo calor, e pelas flores
E pelas coisas do passado, que flutuam em algum lugar, em paz
E pela alegria, pelo sorriso, pela felicidade que realmente existe

Existem flores transparentes
E ninguém sente vontade de colhê-las, pois elas são mais belas sem posse
Elas são espelhos infinitos e eternos
E ao contemplá-las, enchemos nossa morada de aconchego
Compreendemos os outros que já passaram e perdoamos
É tudo muito natural, tudo corre feito um riacho

Você sabe quando é o momento de caminhar
E realmente sente, quando precisa se esticar
Crescer, crescer, até onde puder
Com o que você leva consigo
Braços carinhosos e mãos acolhedoras, em forma de concha
Uma face, para conquistar o semelhante
Um corpo, pra se fazer sentir
Palavras, que são mais que sons
Palavras, que podem ser gestos, momentos, sentidos únicos ou universos
Um coração que te guia, na língua dos pássaros
As pernas, os pés, são de terra e areia
Sal, mar, madeira, céu e sol
Podem ser terremotos, podem ser trovões no chão que se abre

E com tudo isso, sentimos quando precisamos nos esticar
E crescer, crescer, crescer
Até onde der
As asas virão, e vamos crescendo
Até qualquer altura, até onde der

Vamos brincando e crescendo

Até onde der

M.S.e J.

Inspirado na música Grow Till Tall, Jónsi.

domingo, 9 de junho de 2013

O Manto do Amor

E se és chamado a aceitar um novo rumo,
és capaz de confiar?
E se a vida te conduz além do infortúnio,
és capaz de acreditar?

E se a música celeste sopra entre as folhas,
és capaz de escutar?
E se teu coração chama o canto que escondeste,
és capaz de retornar?

És capaz de refazer tuas leis,
de limpar tua morada,
de ver a verdade?

És capaz de amar novamente,
a ti mesmo e ao outro,
sem as sombras da história?

Sim, capaz és tu,
o Grande Servo toma tua mão.
Ele quer mostrar-te.

Senta-te e deixa
que Seu manto se derrame
sobre o teu viver Eterno.

C.W.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

O signo da tempestade

Sou do signo da tempestade
Nasci em meio a tormenta
Escorro por entre tuas frestas
Sou chuva que ninguém enfrenta

Se teu lago natural evapora
Me formo nuvem sobre teus campos
E chovo pra fecundar tua terra nua
Tua sede matas, na beira do meu manso regato

Sou do olho do tornado
E arrefeço teu campo seco com minha dança
Evaporo mansinho da tua xícara de chá
Descanso pelos teus traços
Pra depois em teu corpo me deliciar

Sou do signo da tempestade
E quando chego trago trovão
Desço em raio do meu céu até teu centro
E se quiser amor
Há mar, sou furacão

M.S.

domingo, 2 de junho de 2013

Prelúdio e Fuga

De movimentos meu coração se colore
Se ora aprisionado,
de repente livre
E voando alto
Encontra a felicidade
Lá onde nada mais habita

Os pensamentos vagam
e pra você voltam, tempo em tempo
Eu viajo, eu sonho, eu sufoco
De desejo se veste minha mente
Em angústia meu destino se consome

Mas tudo é apenas tempestade
Como a dor que precede o nascimento
Como o inverno que guarda em si
a alma de prometidas flores

Eu ouço a música mais alta
E em danças meu coração celebra
O toque sutil do amor

Sou um grão de areia que nada há de possuir
E que também por nada há de ser contido
E assim como você
Há de ser levado pelo tempo
Até que enfim sejamos um só chão
Um só sonho
Um só grão.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Soneto da própria natureza


Depois de um encontro com as feras
Essas que dilaceram qualquer ternura
Que rasgam sem piedade a pele velha e frágil
Que mancham tudo de dor incessante

O que fica é a calmaria irônica
Essa que aflige com silêncio 
Que por dentro do dentro do dentro
É testemunha de todo o talvez estrago

Talvez porque as feras não são de todo mal
E por maior e mais brutal a violência
Seja a essência do instinto o amor

E talvez a ignorância que as despertam
- E como machuca se dar conta disso
Seja a mesma que as alimentam

T.K.

sábado, 18 de maio de 2013

To Grow Our Wings

We're fragile and sweet
Under the noise of our pace
Looking to merge into each other
To be taken by grace

Invite me to rest, friend
And cry the whole world out
So when I'm done
I'll be back to my shoes
to know what it's all about

World is so much to take
At such an early age
I'm still the young bird
Longing for the wide space

Wanderlust is my home
I wanna cook and sing
I wanna dance with you
Till we're something else
Help me grow my wings

C.W.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Irmandade

Ele tinha muitos amigos, que conquistou com o tempo
Ele tinha diversão, vida decente e até mesmo música
Ele podia ver as coisas que enchem os corações dos homens
E apontava pra elas, na esperança que eles olhassem

Ainda assim, havia algo que ele não tinha

E seu coração ansiava por isso
Mas as palavras de seu murmúrio
Eram ilegíveis para sua mente

"Que posso querer, coração meu?" - ele pensava.

E um certo dia,
depois de um daqueles infortúnios que jogam o homem de volta
às profundezas de si mesmo
Ele se deu conta

Deu boas-vindas ao seu irmão
Agradeceu seu olhar
Relaxou ao saber
Que este lhe dizia, em silêncio:
"Eu vejo o que você vê
Eu sinto o que você sente
Eu sou um pouco do que você é"

Neste dia, seu fardo se tornou um pouco mais brando
Sua angústia, um pouco mais simples
E todas as coisas acharam, mesmo que por algum tempo
Seu sentido

Ele começava a perceber, enfim
Que poderia trocar a angústia
Por amor verdadeiro
E o medo
Pelo apoio ingênuo
de uma alma real.

 C.W.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Selene

A música se espalha
Em tons azuis vitrais
Espectros de vida própria
No receptivo vazio

Criam-se brilhantes formas
Harmônicos magistrais
Cujo toque faz de minha mente
Um cristal

Límpido espírito da fluidez
Tal como a água, de sutileza além
Cerca meu corpo em harmonia
Raios de perfeição celeste
No transparente-azul, intocado

C.W.
Inspirado na música "Selene" de Michael Manring

Passarada

De peito pros ares
Asas, pra além daqui voar

De vento em cores
Canto de amores
Da terra, fogo e sal do mar

O piar manso, é pra selar o ato da vida
E quando canta, é pra soar diferença
Fazer sentir, na voz da intuição e do acaso
Pelos quatro cantos de um só ninho
Em cada ponto, fenda, fresta
Há passarada, passarinho

Em revoada, passarada
Sinto não estar sozinho
Pois meu coração é passarinheiro

Das brisas que me pairam
Em trova faço canto
E o canto me faz carinho
Trovoa no espaço os encontros
Que já voaram no meu caminho

Meu caminho é feito estrada
Trejeito em vento, passarinho
Em revoada, passarada
Sinto não estar sozinho

M.S.

domingo, 12 de maio de 2013

De vento, em vida

De vento, em vida, me criei
Das coisas que sei, só sei das coisas que sinto
Se centro e falanges, eu labirinto
Pra um dia chegar em tempo
No mundo sem lei do meu eu menino

De céu e terra, eu me fiz rei
Me embrenhei nessas matas, pra dentro do olhar
E pé ante pé, som e silêncio
Aqueci a velha fé com lenha do meu novo destino

E foi de curva, de ponte, de pedra e de aço
Meu traço, tela, tinta e descompasso
De vento em vida, eu me curvei
Na chão batido, os primeiros passos

M.S.

Deserto-me

Posso eu repousar
imerso em meu contorno
que em seu limite encontra
as des-fronteiras do universo

Devo eu desfazer-me
não restando
ante invisível e insuportável linha
que entre morte e vida
em mim se revela

Esta música ancestral
que carrega para o não-ser
até mesmo a dureza do tempo
vem para consumir toda a natureza da
forma

Posso eu repousar
e embalar-me em colossal melodia
embebido em não compreensão
transpassado pela beleza-além-perfeita?

C.W.
Quando me dei conta
já não era mais medo
Quando o meu reflexo busquei
já não havia mais forma
E diante de tudo o que sabia
nada mais era conhecido
Então, mais leve que o éter
mais sutil que um pensamento
segui até não existir
Olhei meu andar de perto
e o movimento se foi
e também a vida
e a morte.

C.W.