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sábado, 12 de outubro de 2013

Ao distinto poeta

Ao distinto poeta cabe olhar o mundo, assim como olhar a si próprio.
Cabe imergir-se em questionamentos sobre a vida e a sociedade, mas cabe também recriar realidades e sensações, e cobiçar estados, intrínsecos ou não à sua existência.
Cabe alimentar seu âmago criativo à deriva do que se dispõe ao alcance da sua percepção, mas cabe também a fuga, vulgar e visceral, da própria fera linguagens adentro, na loucura ou abstração que aprouver ao chamado da floresta de si mesmo. Desse vale porém, há uma sorte das mais exuberantes às mais perigosas introspecções.
Ao poeta cabe tão bem a sinceridade e a mentira, tal que um indivíduo ao confrontar o mundo do poeta, vai fazê-lo com todos os filtros sobre verdade e mentira que já possui, e dessa forma a si moldar realidades paralelas.
Ao poeta cabe a geografia dos discursos, o calibre das ideias e a armadilha das ideologias, dificilmente saindo este ileso de cada profundo mergulho insalivar das coisas que se fazem entender sem serem ditas.
Cabe a bipolaridade dos acontecimentos, o partidarismo das dúvidas, o amargo da falsa consciência e o ferro das próprias ferraduras.
Ao poeta cabe a solidão extrema, ainda que mascarada pela consonância distante de todos os leitores com sua poesia, mesmo quando essa é sagaz na missão de influir e formalizar processos pensantes.
Cabe então ao poeta, se atar tão elementar e insuportavelmente à sua poesia, a ponto de correr o risco de não saber, a qualquer instante, de nada daquilo que escreve, pensa ou fala, ou então ser surrado pelas suas próprias palavras.

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